“Cartola não existiu, foi um sonho que a gente teve…”
Nelson Sargento
“Soube que o mestre disse que eu era seu herdeiro. Cartola não tem sucessor, que ele me perdoe lá em cima. Seu trabalho é único. Era um homem capaz de fazer centenas de sambas e se esquecer de vários deles.”
Paulinho da Viola
Angenor de Oliveira, conhecido como Cartola, nasceu no Rio de Janeiro, domingo 11 de outubro de 1908, no bairro carioca do Catete. Teve uma vida ativa de compositor muito longa. Grande sambista, é um dos mais importantes nomes da música popular brasileira: como compositor, intérprete e instrumentista, e como fundador e diretor de harmonia da Estação Primeira de Mangueira.
Começou aos 19 anos, com o samba Chega de Demanda e continuou compondo até outubro de 1980, quando criou o samba Vem, sua última obra. Ao todo mais de meio século produzindo. Em 1970, segundo declarou, já devia ter composto cerca de 600 músicas.
Cartola foi sempre, desde menino do tipo quebra mais não verga. Fartou-se de dizer que não ia andar atrás de cantor e gravadoras para divulgar suas músicas. Só aos 66 anos, em 1974, presenciou seu reconhecimento público, com o lançamento de seu primeiro LP, pela gravadora Marcus Pereira. A gravação foi produzida por J.C. Botezelli (Pelão), com arranjos do violinista Horondino José da Silva, popularmente conhecido como Dino 7 cordas, pela técnica que desenvolveu com o violão de sete cordas. Lançamento tardio para quem já contava com a admiração de diversos artistas à sua obra.
Os dois primeiros discos do sambista Angenor de Oliveira, ambos chamados Cartola, lançados em 1974 e 1976.
Como precursor dos encontros de samba, Cartola sempre reuniu muitos amigos, desafiados a apresentarem uma nova música em cada encontro. As rodas foram se popularizando e os convidados não paravam de chegar. Esse movimento culminou na fundação do Zicartola, em 1963, casa de samba no Rio de Janeiro. Entre os frequentadores que sempre participavam de shows de improviso: Tom Jobim, Zé Kéti, Nelson Cavaquinho, Ismael Silva, Elton Medeiros, Elizeth Cardoso, Clementina de Jesus, João do Valle, Paulinho da Viola, Dorival Caymmi, Nara Leão, entre muitos outros. Definitivamente o samba desceu para o asfalto.
Cartola nunca procurou o sucesso, sempre foi perseguido por ele. Estando com os parceiros Carlos Cachaça, Noel Rosa, Elton Medeiros, Hermínio Bello de Carvalho, Dalmo Castelo, e sobretudo só, deixou obras definitivas para a música popular brasileira. Pérolas como As Rosas Não Falam, Acontece, Disfarça e Chora, O Mundo é Um Moinho, Não Quero Mais Amar a Ninguém, Tive Sim, entre muitas outras, são revisitadas cada vez mais por diversos interpretes e amantes da boa música brasileira.
No dia 11 de outubro de 1998, Cartola completaria 90 anos. Estação Cartola foi a primeira exposição realizada sobre a trajetória desse grande artista, que tanto tem encantado com seus versos o público e influenciado a MPB.
A exposição foi remontada no Sesc Pompéia para o lançamento do livro Cartola 90 Anos do jornalista Arley Pereira, que conviveu durante anos com o compositor. O livro traz a vida e a obra de Cartola, além de análises de sua importância na música popular brasileira.
Ouça no Spotify a playlist do primeiro disco de 1974!
Espaço Cultural BNDES
Maio de 1998
Sesc Pompéia
Setembro de 1998
Idealização e coordenação: Ana Cunha . Direção Artística: Henrique Cazes . Pesquisa: Marília T. Barbosa da Silva & Arthur L. de Oliveira Filho . Texto: Sergio Cabral . Design: Vanessa Bittencourt . Cenografia: Jefferson Duarte . Patrocínio: Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES).