Gentileza Gera Gentileza
Gentileza além de Profeta foi artista gráfico. Ele criou um alfabeto, com 3 variações: Na terceira linha, vemos as letras de seus rascunhos, na segunda quando os elabora, e na primeira linha a variação que utiliza nos muros. A grafia que desenvolveu tem uma grande semelhança com a que os caminhoneiros utilizam para enfeitar carrocerias. Afinal, Gentileza trabalhou na estrada durante muitos anos.
Sua letra tem enfeites, serifas, cachos – para chamar a atenção de quem passa, e talvez uma tentativa de enobrecer os textos, que assim, mereçeriam o caráter de mensagens divinas. Existem também as explicações simbólicas: “no til eu uso um passarinho, que leva todo mundo para o céu; as setas, que são aviõezinhos, tem a mesma função.” As cores usadas em suas representações, são basicamente as da bandeira brasileira, que diz ser “a mais linda do mundo porque tem o universo, as cores do universo”.
O Profeta diz nunca ter experimentado a pintura e o desenho antes do “chamado divino”. Último dos onze filhos de um casal de lavradores italianos, de Cafelândia (atual Mirandópolis), no interior de São Paulo, Datrino chama de provação no mundo a sua vida anterior a fase de pregação. Desde pequeno era tido como maluco “por falar coisas estranhas”. Só que ninguém esperava que ele fizesse coisas estranhas. Quando o pai lhe negou uma carroça e seis burros para ajudar na construção de uma estrada de ferro no Paraná, José fez as malas e partiu, não para a casa do tio numa cidade vizinha, como dissera em casa, mas para o Rio de Janeiro, cidade que diz ser abençoada.
Seu hábito de doar flores inspirou o cinema italiano a produzir o filme “Una Rosa per Tutti”. No filme, Gentileza aparece ao lado de Cláudia Cardinale e desarmando, com palavras e flores na mão, um confronto entre policiais e estudantes – fato que realmente ocorreu em 1968.
Por onde passava, em especial pelas cidades mais humildes, era recebido por pessoas que se reuniam para ouvi-lo pregar. Hoje possui volumosa coleção de cartas de apresentação e agradecimento de prefeitos das mais variadas cidades, de quase todos os Estados, até mesmo os mais distantes.
Foi do Norte ao Sul do país, além de uma passagem pelo Perú. Em todos estes Estados – visitando escloas, prisões, praças públicas eonde quer que encontrasse alguém para ouvi-lo – foi matéria jornalística. Em Aquidauana, Mato Grosso, em 1971, Gentileza foi qualificado pelo Prefeito como Hippie, agitador e subversivo. Preso, teve o cabelo e barba cortados e seu material destruído: “eles pensavam que a abreviatura PC, escrita na minha tábua, significava Partido Comunista, mas era Pai Criador” – lembra sorrindo.
A exposição
O projeto A ATE GRÁFICA MURAL DO PROFETA GENTILEZA, foi motivado pelo temor de que a obra do artista se perdesse empobrecendo a memória cultural brasileira. Foi um trabalho documental sobre o Profeta Gentileza, que com sua pintura mural e suas pregações tornou-se um personagem querido, especialmente, do povo do Rio de Janeiro .
Com a exposição GENTILEZA GERA GENTILEZA, patrocinada pela TELE SENA e realizada pelo Departamento Cultural da UERJ e a Limiar Produções Artísticas, foi inaugurado no período de 5 de dezembro de 1995 a 6 de janeiro de 1996 na Sala de Exposições Cândido Portinari da UERJ. Reuniu amplo acervo de fotos, peças originais, colagens e adereços especialmente confeccionados – e ainda o vídeo GENTILEZA.
Através da abordagem, tanto do aspecto de interesse artístico, como também o “profético”, a mostra traz elementos da vida, da estética e da obra do PROFETA. Sua pintura mural, incluindo aspectos do processo criativo; sua figura pessoal; sua imagem inserida no contexto da cidade; sua mensagem, incluindo suas justificativas; sua biografia e cotidiano.
Como foi possível observar, as pessoas ficam impressionadas com a beleza e pureza que, de forma inteligente, aquele senhor consegue transmitir, gerando o bem estar da arte visual e da escrita, em uma obra que por sua qualidade artística e conseqüente aceitação pública já participa da genuína informação cultural brasileira.
O PROFETA teve sua personalidade popular mostrada e reconhecida com grande apreciação pública. No ano de 1996, GENTILEZA, completou 35 anos de atuação – no Rio de Janeiro e em diversas cidades do Brasil.
Pesquisa e design: Vanessa Bittencourt
Expografia: Jefferson Duarte
Fotos: Rodrigo Maçal
Design de projeto e produção: Ana Cunha e Clarisse Sette